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Síndrome do Pânico

INTERVENÇÃO EM CRISE: ESTUDO DE CASO DE PACIENTE COM TRANSTORNO DE PÂNICO A LUZ DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL



1 CONCEITUAÇÃO DO TEMA

Descrever as sensações e reações de um indivíduo, que se encontra em estado de crise é algo complexo, porém em um contexto geral, podemos conceituar essa situação, como sendo uma vivência e experiência normal de vida, refletindo oscilações do sujeito no intuído de trazer um equilíbrio para si mesmo e para o ambiente a sua volta. Quando por ventura o referido equilíbrio é quebrado, ocorre o surgimento da crise, que vem a ser a manifestação violenta e abrupta da descontinuidade do equilíbrio (SÁ; WERLANG; PARANHOS, 2008).

Um outro modo de caracterizar a crise ou ataque pode ser pelo surgimento repentino, com breve durabilidade de segundos ou minutos e, dificilmente, horas. Crises de agitação psicomotora, ataques epiléticos, crises de pânico e crises histéricas podem ser exemplos de fenômenos desta ordem (FONTENELLE, 2010).


As crises de pânico ou ataques de pânico como também é conhecida, podem ser descritos como episódios distintos de medo intenso, que vem acompanhado de sintomas físicos e cognitivos, esses acessos são eminentes devido ao seu acontecimento súbitos e de curta duração, diferentemente do surgimento gradativo da ansiedade ( BARLOW, 2016).


De acordo com o modelo cognitivo-comportamental, as crises de pânico tendem de interpretações catastróficas erronias de determinadas manifestações corporais, ou seja, compreensões distorcidas a respeito de sensações corporais, podem colaborar para um aumento significativo da ansiedade, intensificando sintomas, que por ventura podem desencadear novas crises e conservando o transtorno (CLARK, 1980 apud. DE BAÈRE, 2015).


Os pensamentos e distorções cognitivas, referem que o sujeito vincule sensações psicossomáticas como ataque cárdia, sudorese, pontada no peito entre outros, a uma sensação de quase morte ou morte eminente. Quando essas sensações são vivenciadas novamente, traz à tona o pensamento automático de estar desenvolvendo uma nova crise, provocando assim uma resposta de medo, gerando uma sensação desagradável (DE BAÈRE, 2015). Para a terapia cognitivo-comportamental é mais do que possível auxiliar o indivíduo a evitar esses ataques, segundo De Baère (2015), “Para identificar esses pensamentos, a pessoa deve ser treinada para tal, assim, terá habilidade até para monitorá-los”.


2 DEFINIÇÃO, HISTÓRIA NA ATUALIDADE E (ESTATISTICA)

A síndrome do pânico, pode ser descrita como uma condição médica complexa, que está relacionada a alguns fatores como por exemplo etiológicos, psicossociais e biológicos (STOPPE JÚNIOR; CORDÁS, 2001). Em meados dos anos 80 houve uma conversão para conceituar o transtorno de pânico como sendo um medo adquirido de sensações corporais, especialmente aqueles associados a excitação desse medo, acredita-se que as predisposições aos fatores psicológicos assim como os biológicos, podem aumentar a vulnerabilidade a obtenção desse medo (BARLOW, 1988; CLARK, 1986; EHLERS E MARGRAF, 1989 apud. CRASKE; BARLOW, 2016).


O ataque de pânico não é, em si, uma entidade patológica e pode ocorrer isoladamente sem maiores repercussões em até 15% da população geral. Estes episódios isolados podem ocorrer em diversas situações: numa pessoa saudável após situação de extremo perigo, num indivíduo fóbico após exposição ao objeto ou situação fóbica, durante uso ou abstinência de drogas (cocaína, maconha, álcool), privação de sono prolongada, abuso de cafeína ou psicoestimulantes (STOPPE JÚNIOR; CORDÁS, 2001).


Para o DSM V (2014), no transtorno de pânico o sujeito vive ataques recorrentes de pânico inesperados recorrentes e está permanentemente inquieto ou preocupado com a possibilidade de vir a acontecer novos episódios de pânico ou acontecer novas mudanças desadaptativas em seu comportamento em consequência aos ataques de pânico. (p.ex., esquiva de exercícios ou de locais que não são familiares). Os ataques de pânico são ataques repentinos de medo intensivo e desconforto que chegam ao auge em poucos minutos, juntos de sintomas físicos e cognitivos.


Numa crise de pânico o sujeito tem reações de medo, como se ficasse frente a um perigo, entretanto, não há provas visíveis de que existam ameaças. A mente então contorna para as reações físicas que são próprios a reação emocional de ansiedade e medo (taquicardia, falta de ar, tontura, enjôo, etc), começa a interpreta-las como um sinal de perigo, evidencia de uma doença fatal, de uma catástrofe iminente. Esta forma de interpretar catastroficamente aumenta ainda mais o medo, logo mais reações. Esse “medo do medo” tende a prolongar todas as vezes em que o indivíduo ficar ansioso irá aparecer reações para serem temidas; a todo momento que sentir algo em seu corpo vai com medo e consequentemente mais reações irão surgir... é um verdadeiro ciclo que se auto- alimenta, quanto mais reações, mais medo, quanto mais medo, mais reações. Este círculo vicioso que sustenta a pessoa no Transtorno de pânico (SCARPATO, 2012).


Em relação a outros transtornos de ansiedade o início do Transtorno de Pânico (TP) é geralmente demorado, acontecendo ao final da década dos 20 anos em média. O TP atinge duas a três vezes as mulheres do que os homens e pode afetar cerca de 3,5% das pessoas durante a vida. O transtorno também está ligado a um alto custo social, os pacientes acometidos com este transtorno possuem um rendimento reduzido e necessitam frequentemente do uso de serviço público de saúde, como pronto atendimentos, consultas médicas e exames. A maioria dos pacientes de TP relatam que o surgimento do transtorno deu- se após uma fase estressante (CORDIOLI; KNAPP, 2008).


A terapia cognitiva comportamental (TCC) para o tratamento do TP é tida como um recurso terapêutico que possui eficácia a curto ou longo prazo, tanto para os sintomas nucleares de pânico quanto para os sintomas residuais, e que são frequentemente persistentes a ansiedade antecipatória, evitação fóbica agorofobia. Alguns estudos afirmam que a TCC pode modificar o processo de TP não só para prevenir recaídas, mas porque ela estende o intervalo entre elas. O tratamento imediato com a TCC (cerca de 12 sessões) está relacionado a altos índices (75%) de pacientes livres de pânico. Os resultados dos estudos demonstram que a efetividade da TCC no tratamento do transtorno é melhor que a farmacologia de longo prazo: 87% dos pacientes matem-se sem ataques após um ano e 75-81% dois anos após o termino do tratamento com a TCC. (CORDIOLI; KNAPP, 2008).

Segundo de Baère (2015) o primeiro passo para dar início ao tratamento é através da psicoeducação, que tem como finalidade retificar os mitos e as concepções sobre os sintomas do TP, corrigindo as compreensões distorcidas do senso comum. Dessa forma o paciente poderá busca novos sentidos para os seus pensamentos, trazendo para o seu cotidiano pensamentos mais funcionais.


Dentro da psicoeducação o paciente deve entender sobre o modelo cognitivo-comportamental, como também sobre o que é o transtorno de pânico, quais os seus sintomas, as suas causas, as complexidades, as influencias psicológicas e biológicas. A ansiedade neste contexto (DE BAÈRE, 2015).


3 DESCRIÇÃO DO CASO

J1, 38 anos, com ensino médio completo, auxiliar de serviços gerais, trabalha como encarregada de Serviços Gerais em um hospital do município de João Pessoa, casada, possui 02 filhos. Há 8 anos perdeu o terceiro filho (assassinado) com 14 anos de idade, no mesmo ano da morte do filho, perdeu o pai. Descobriu recentemente que o esposo está acometido de câncer de próstata. A paciente já havia feito terapia e acompanhamento com Psiquiatra, porém, atualmente é acompanhada por um cardiologista. Toma rivotril 0,5, mora com o esposo, vizinha a mãe. A paciente chegou ao consultório ampara e trazida pelo esposo, o mesmo relatou que procurou a psicoterapia, a pedido da própria paciente. A paciente chegou ao consultório em choro compulsivo, sem conseguir falar claramente, com medo, sensação de loucura, dor no peito, sensação de falta de ar, palpitações, sudorese, tremores, tonturas, angustiada, ansiosa, se sentindo sufocada, dor muscular, com ondas de calor e calafrios. Os episódios duraram cerca de 20 minutos, de acordo com o esposo os episódios acontecem até três vezes ao dia, e começaram alguns meses após a morte de filho e do pai.


PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM CRISE PARA PACIENTES COM SÍNDROME DO PANICO


A INTERVENÇÃO

A intervenção consistiu em procedimentos para intervir no funcionamento psicológico do indivíduo durante o período de desequilíbrio, aliviando o impacto direto do evento traumático. Assim, ao receber a paciente, utilizamos o dialogo socrático para realizamos o contato psicológico, a paciente foi escutada, acolhida, aceita, compreendida e apoiada, a fim de reduzir a intensidade do medo, da angústia, sintomas físicos.


Em seguida fizemos a verificação da presença de sintomatologia de acordo com (DSM – v). Aplicamos técnicas de relaxamento para a redução do nível de ansiedade, das palpitações tremores, sudorese. Psicoeducamos a paciente para realizar a respiração diafragmática, para que voltasse a respirar de maneira normal, de modo a conseguir se expressar verbalmente. Passamos a ouvir e analisar o problema (perda do filho para as drogas, possui dois filhos dependentes químicos, morte do pai por infarto fulminante e a doença(câncer) do esposo): Conhecendo quais são os conflitos e problemas que necessitavam de manejo imediato de modo que a paciente saísse da crise.


AS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS

Ao analisar as possíveis soluções e propor novas alternativas viáveis para alcançar solução para o problema que lhe angustiava; psicoeducamos a paciente sobre a importância de conhecer e controlar as emoções; como enfrentar situações de perda, medo e angústia e a importância do Treino das habilidades para a vida: a resiliência e a resolução de problemas e conflitos, os quais iriam ajudá-la a minimizar seu sofrimento nos momentos dos surtos.


Passamos a acompanha-la de modo permanente e sistemático, a paciente foi orientada em o que fazer nos momentos de pânico, como o uso de técnicas de relaxamento, respiração, exercícios de pensamentos cognitivos funcionais, de tal modo que a paciente fosse assistida para racionalizar a respeito do fato que lhe causa medo e executar ação concreta, contribuindo para o gerenciamento da crise.

Foi realizado o monitoramento de verificação do progresso, por meio de procedimentos que avalie o paciente para verificar a sua evolução quanto ao controle dos pensamentos e emoções no momento da crise. Neste caso usamos o “Baralho sentido da vida”, especificamente a atividade do eu real e o eu ideal, o qual nos possibilitou verificar o nível dos pensamentos e o grau de autonomia da paciente para lidar com as questões que as leva ao sofrimento.


O papel e responsabilidade do Psicólogo que atua em intervenções em crise deve ser ativo e direto, orientados a obter objetivos; atender com agilidade e flexibilidade; colocar enfáticas ações para a resolução de problemas; procurar satisfazer as necessidades imediatas do afetado; tudo em um período de tempo reduzido, de modo a minimizar e evitar a instalações de sequelas emocionais e psicológicas, ao máximo possível.


METAS A SEREM ALCANÇADAS

A curto prazo: Tranquilizar a paciente quanto ao manejo do medo e das emoções, dando condições para falar sobre o fatos e/ou desafios que contribuíram para a mesma entrar em crise.


A médio prazo: Contribuir para que o paciente consiga racionalizar frente aos desafios reais que o aflige, alcançando um manejo consciente dos mesmos antes durante e após as crises, com vistas a paciente alcançar sua autonomia frente a doença.


A longo prazo: Ajudar ao Paciente na retomada de planos de vida no retorno aos seus afazeres da vida, com segurança, auto confiança, os quais contribuem para uma qualidade de vida e saúde mental, como também, a aderir ao tratamento através de uma terapia de longa duração, Ajudar a paciente a lidar com eventos traumáticos; Ajudar na busca da resolução de problemas; e Trabalhar os pensamentos disfuncionais. Como também, realizamos o encaminhamento da paciente para um médico psiquiatra para prescrever o tratamento medicamentoso, o qual aliado a psicoterapia apresentaram grandes avanços na qualidade de vida da paciente.


CONCLUSÃO

O Transtorno do Pânico é um tipo de transtorno de ansiedade que causa crises inesperadas de desespero e medo intenso de que algo ruim aconteça, relacionados a sintomas emocionais e físicos aterrorizantes, que afetam nas mais diversas esferas da vida de uma pessoa. Neste sentido, podemos compreender a grande importância do diagnóstico e a intervenção começar o mais breve possível, para que assim possa garantir de forma mais rápida uma melhora na qualidade de vida do paciente, minimizando os danos psíquicos e emocionais.


As duas principais formas de tratamento para esse transtorno são por meio de psicoterapia e medicamentos. Ambos têm se mostrado bastante eficientes. Dependendo da gravidade, preferência e do histórico do paciente, o médico poderá optar por um deles ou até mesmo por ambos, já que a combinação dos dois tipos de tratamento tem se mostrado ainda mais eficaz do que um ou outro operando isoladamente.


A Terapia Cognitiva Comportamental é uma abordagem da psicologia que apresenta bons indicativas de eficiência para o tratamento do Transtorno do Pânico, O principal objetivo do tratamento da síndrome do pânico é reduzir o número de crises, assim como sua intensidade e recuperação mais rápida.


A psicoterapia é geralmente a primeira opção para o tratamento de síndrome do pânico. Existem diversas formas de psicoterapia, sendo a mais estudada e que comprovadamente tem efeitos benéficos nesse transtorno a chamada de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Ela poderá ajudar o paciente a entender os ataques de pânico, a como lidar com eles no momento em que acontecerem e como ter uma vida cotidiana normal sem medo de ter um novo ataque.


O tratamento medicamentoso inclui antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina, como por exemplo a Paroxetina ou citalopran. Benzodiazepinas também podem ser prescritos pelos médicos psiquiatra, os quais serão monitorados quanto a sua eficácia e melhora na qualidade de vidados paciente.


REFERÊNCIA

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.

CRASKE, M. G.; BALOW, D. H. Transtorno de Pânico e Agorafobia. In. Manual Clínico dos Transtornos Psicológicos. Organizador: David H. Balow. 5° ed. Porto Alegre. Artmed, 2016. p. 1-61.

CORDIOLI, Aristides Volpato; KNAPP, Paulo. A terapia cognitivo-comportamental no tratamento dos transtornos mentais. Revista brasileira de psiquiatria= Brazilian journal of psychiatry. São Paulo. Vol. 30, supl. 2 (2008), S51-53, 2008.

DE BAÈRE, T. D. Técnicas Cognitivas-Comportamentais Para O Tratamento Do Transtorno Do Pânico. Portal do Psicólogo, 2015. Disponível em: < http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0937.pdf> Acesso em: 11 de nov 2018 ás 20:10:45.

FONTENELLE, A. S. Sujeitos em Crise: Estratégias de Intervenção de Profissionais em Centro de Atenção Psicossocial-CAPS II. 2010. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Espírito Santo. Disponível em: <http://repositorio.ufes.br/jspui/bitstream/10/ 3024/1/tese_3631_Dissertacao_Alessia%20final.pdf> Acesso em: 11 de nov 2018 ás 18:17:19.

SÁ, S. D.; WERLANG, B. S. G.; PARANHOS, M. E. Intervenção em crise. Revista brasileira de terapias cognitivas, v. 4, n. 1, p. 0-0, 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180856872008000100008> Acesso em: 11 de nov 2018 ás 17:19:43.

SCARPATO, Artur. Pânico, regulação e vínculo: um enfoque integrativo. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XVII, XII, 2012.Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2012. Disponível em:

<www.centroreichiano.com.br/artigos.> Acesso em: 16 de nov de 2018 ás 11:30: 56

STOPPE JÚNIOR, A.; CORDÁS, T. A. Síndrome do Pânico. RBM. Revista Brasileira de Medicina (Rio de Janeiro), São Paulo, v. 58, n.7, p. 475-478, 2001. Disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=1555> Acesso em: 05 de nov 2018 ás 23:48:23.

TOY, Eugene C. Casos Clínicos em Psiquiatria. 4 ed. – Porto Alegre: AMGH, 2014.






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